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terça-feira, abril 25, 2017

Da multiplicação (da estupidez):

«É triste a história da tartaruga tailandesa que morreu envenenada pelas moedas que engoliu. Os cirurgiões bem tentaram salvá-la, retirando as moedas uma a uma — mais de cinco quilos — mas ela não sobreviveu.
É fácil julgar à distância, com os factos à frente dos olhos. Não serve de nada. É mais útil pormo-nos no lugar de um desses turistas que atirou uma moeda e tentarmos perceber o que é que correu mal.
Foi a quantidade de moedas que matou a tartaruga. Cada pessoa atira uma moeda mas não pensa nas milhares de pessoas que fizeram ou farão a mesma coisa. Uma moeda não faz mal mas milhares de moedas matam. Falta muitas vezes aos seres humanos a consciência de fazer parte de uma multidão imensa. O cigarro, a garrafa de plástico ou o cocó do cão que uma só pessoa deixa na praia para ser levada pelo mar têm de ser sempre multiplicados por dez mil.
Foi a quantidade de moedas ingerida ao longo dos anos. Também o tempo tem de ser multiplicado. A regularidade dos poluentes contribui tragicamente para o envenenamento.
A estupidez humana também nos pertence e não podemos sacudi-la: só admiti-la. Se calhar, pensávamos que o sistema digestivo duma tartaruga marinha era capaz de livrar-se das moedas. Se calhar, pensávamos que a tartaruga tinha alguma fantasiosa sabedoria que a impedia de ingerir coisas que a pudessem matar. Nem ela nem nós.»

A nossa estupidez, MEC

quarta-feira, julho 30, 2014

Reparar um coração como uma velha torradeira:

"Reparar é salvar. Reparar é guardar. Reparar é respeitar o que se comprou. Reparar é nadar, ir e remar contra a maré. Reparar é sublime. Reparar é a lealdade forreta que reside em todos os nossos egoísmos e esquemas de não gastar. Reviva!
MEC


- Repara-me, coração, e (re)vive.

quinta-feira, maio 01, 2014

Do novo livro do MEC (que já está encomendado):

O amor é um castigo, é um desespero, é um medo.
O amor vai contra todos os nossos instintos de sobrevivência.
Instiga-nos a cometer loucuras. Instiga-nos a comprometermo-nos. Obriga-nos a cumprir promessas que não somos capazes de cumprir. Mas cumprimos.

quarta-feira, janeiro 15, 2014

Do mais genial e bonito que já li:


« Pode haver muitas razões, muito racionais, para andarmos a matar pombos e gaivotas, mas não há desculpa. O controlo populacional dos ecologistas tem o saber eugénico das práticas nazis. O céu português, lembrando Alexandre O´Neill, é desenhado de pombos e gaivotas. Os pombos trazem o campo à cidade. As gaivotas trazem o mar à terra. Unem o céu ao chão. (...) Na cidade fechada, os pombos são janelas de liberdade. Na costa finita, as gaivotas são pontes até ao mar. (...)
Matar animais sem justificação humana (...) é a maior das crueldades (...) - quero lá saber se o champô arde nos olhos, se não há bifes para ninguém, ou se simplesmente a caça é proibida - mas a exterminação ecológica parece-me a mais sinistra. (...)
Por mim, as gaivotas são a alegria das Berlengas, e não há em Lisboa nem pombos nem gatos que cheguem. Quero que as estátuas e as fachadas dos monumentos se lixem. Limpem-nas. Ou será mais difícil limpar que matar? É sempre mais fácil escolher a morte. (...)
Pobres gaivotas. Pobres pombas. Pobre país.»

Eu não diria melhor.
- Explicações de Português Explicadas Outra Vez, Matar, MEC

quarta-feira, dezembro 25, 2013

Do que se lê:

«O amor é banal. É por isso que é tão bonito. O que se quer da pessoa amada: antes que ela nos ame também, é que ela seja feliz, que seja saudável, que tudo lhe corra bem. Embora se saiba que o mundo não o permite, passa-se por cima da realidade, do raciocínio do que é possível, e quer-se, e espera-se, que Deus abra, no caso dela, uma excepção.»

Explicações de Português Explicadas Outra Vez
M.E.C.

quarta-feira, junho 19, 2013

Nós continuamos:

Guardar é um trabalho custoso. As coisas têm uma tendência horrível para morrer. Salvá-las desse destino é a coisa mais bonita que se pode fazer. É fácil uma pessoa bater com a porta, zangar-se e ir embora. O que é difícil é ficar. Preservar é defender a alma do ataque da matéria e da animalidade. Deixadas sozinhas, as coisas amarelecem, apodrecem e morrem. Não há nada mais fácil do que esquecer o que já não existe. Começar do zero, ao contrário do que sempre pretenderam todos os revolucionários do mundo, é gratuito. Faz com que não seja preciso estudar, aprender, respeitar, absorver, continuar. Criar é fácil. O difícil é continuar

Miguel Esteves Cardoso

segunda-feira, junho 17, 2013

"Como é que se esquece alguém que se ama?"

Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está? (...) Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre.
 
Miguel Esteves Cardoso

segunda-feira, junho 25, 2012

"Desmorrer"



Desta vez, a Maria João teve sorte. Nunca tinha visto uma médica chorar. Foi a Maria João que puxou as lágrimas, quando a Dra. Teresa lhe disse que não havia mais metástases dentro dela. Ficámos os três a chorar e a olhar para os outros a chorar. A minha amada já tinha esquecido o futuro. Já não queria saber da casa nova, do tecido para forrar os sofás, do Verão seguinte. Estava convencida que estava cheia de metástases. Doía-lhe o corpo todo. Tinha desanimado. Estava preparada para a morte. Só a morte é mais triste. Tinha-se preparado para ouvir o que já sabia, para não se assustar quando lhe dissessem que o cancro na mama tinha voltado e que se tinha espalhado por toda a parte.
Depois - mas não logo, porque não é de momento para o outro que se desmorre - voltou a ver vida pela frente. Reapareceu um horizonte e um caminho até lá, com passos para dar. "São tão raras as boas notícias", disse a médica, "e é tão bom dá-las, vocês não imaginam". Nós não imaginámos. Começámos a chorar. As lágrimas ajudam muito. As dos outros especialmente. Chorar sozinho não tem o mesmo efeito. A Maria João tem chorado por razões tristes. Desta vez estava a chorar de felicidade.
Como chora cada vez que ouve ou lê palavras doces, a dar força, a partilhar a dor, a juntar-se para que ela saiba que há muita gente a sofrer com ela, tal é a vontade delas que ela não sofra. Ou sofra pouco. Embora isto de se ficar vivo também se estranhe um bocadinho.
MEC

domingo, dezembro 04, 2011

Oh, e se não sai caro!


(O que Distingue um Amigo Verdadeiro )

"Os amigos, como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é um dos custos da amizade. O que é bom sai caro."

Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'

terça-feira, março 08, 2011

A todas nós...

«Só quando os homens chegam a uma certa idade é que podem dizer com certeza que as mulheres são melhores do que eles em tudo - mesmo na bola, a carregar pianos, a lutar com jacarés ou nas outras coisas em que ganhávamos quando éramos mais novos e brutos e fortes.
Quando se é adolescente, desconfia-se que elas são melhores.
Nos vintes, fica-se com a certeza.
Nos trintas, aprende-se a disfarçar.
Nos quarentas, ganha-se juízo e desiste-se.
Nos cinquentas, começa-se a dar graças a Deus que seja assim.
Os homens que discordam são os que não foram capazes de aprender com as mulheres (por exemplo, a serem homenzinhos), por medo ou vaidade ou estupidez.
Geralmente as três coisas.
Desde pequenino, habituei-me que havia sempre pelo menos uma mulher melhor do que eu. Começou logo com a minha linda e maravilhosa mãe, cuja superioridade - que condescendia, por amor, em esconder de vez em quando - tem vindo a revelar-se cada vez mais. As mulheres são melhores e estão fartas de sabê-lo.
Mas, como os gatos, sabem que ganham em esconder a superioridade.
Os desgraçados dos cães, tal como os homens, são tão inseguros e sedentos de aprovação que se deixam treinar.
Resultado: fartam-se de trabalhar e de fazer figuras tristes, nas casas e nas caças e nos circos.
Os gatos, sendo muito mais inteligentes, acrobatas e jeitosos, sabem muito bem que o exibicionismo vai levar à escravatura vil.
Isto não é conversa de engate. É até um tira-tesões. Mas é a verdade. E é bonita.»
- Miguel Esteves Cardoso
...Feliz Dia da Mulher.