«É triste a história da tartaruga tailandesa que morreu envenenada pelas moedas que engoliu. Os cirurgiões bem tentaram salvá-la, retirando as moedas uma a uma — mais de cinco quilos — mas ela não sobreviveu.
É fácil julgar à distância, com os factos à frente dos olhos. Não serve de nada. É mais útil pormo-nos no lugar de um desses turistas que atirou uma moeda e tentarmos perceber o que é que correu mal.
Foi a quantidade de moedas que matou a tartaruga. Cada pessoa atira uma moeda mas não pensa nas milhares de pessoas que fizeram ou farão a mesma coisa. Uma moeda não faz mal mas milhares de moedas matam. Falta muitas vezes aos seres humanos a consciência de fazer parte de uma multidão imensa. O cigarro, a garrafa de plástico ou o cocó do cão que uma só pessoa deixa na praia para ser levada pelo mar têm de ser sempre multiplicados por dez mil.
Foi a quantidade de moedas ingerida ao longo dos anos. Também o tempo tem de ser multiplicado. A regularidade dos poluentes contribui tragicamente para o envenenamento.
A estupidez humana também nos pertence e não podemos sacudi-la: só admiti-la. Se calhar, pensávamos que o sistema digestivo duma tartaruga marinha era capaz de livrar-se das moedas. Se calhar, pensávamos que a tartaruga tinha alguma fantasiosa sabedoria que a impedia de ingerir coisas que a pudessem matar. Nem ela nem nós.»
A nossa estupidez, MEC
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